UX Acessibilidade

Falar para todos é falar para ninguém. Pare, pense, liste e defina todos os possíveis grupos de pessoas que você deseja atingir. A acessibilidade é uma decisão da empresa e precisa estar inserida na sua cultura de responsabilidade social e, assim, ser devidamente considerada no orçamento dos projetos. Muitas empresas já adotaram as boas práticas de acessibilidade, mas para que realmente se possa atender a certos grupos, é necessária uma maior complexidade no desenvolvimento do projeto e maior investimento financeiro. Seja transparente e tenha os objetivos claros e bem definidos em relação a quais grupos você deseja dialogar.

Ícone | Apple Universal Access

O discurso da acessibilidade ainda é da minoria e da diferença. Primeiro, é preciso mudar esse pensamento. Entre as boas práticas da W3C, existem normas que são vantajosas não apenas para acessibilidade, mas para melhoria de SEO, por exemplo. Neste ponto, a inovação já ajuda a acessibilidade e uma vez que você consegue provar para o seu cliente ou para sua empresa que isso é um valor para a visibilidade e retorno da marca, nós, como inovadores, apresentamos o valor de contribuição social ao implementar a nova tecnologia. Apple Siri é um exemplo de inovação que inverte o peso de tratar a minoria como maioria e, com isso, ganham todos. Uma facilidade desenvolvida para um grupo de pessoas não com necessidades ou deficiências específicas tornou-se uma das grandes soluções de comunicação, inclusive, para estes grupos.

Depois da “bolha da internet” no fim dos anos 90s e começo dos anos 2000, a acessibilidade tinha um discurso muito próximo da “usabilidade”. Essas duas disciplinas entraram em parceria para resgatar a web, trazendo valores que não estavam mais sendo percebidos: internet pode ser simples, pode ser fácil, pode ser para todos.

Mobile first, User friendly já são nomenclaturas comuns no discurso do marketing das empresas. HTML já é acessado por muitas plataformas e obrigatório na construção de qualquer site. Controle de voz, uso de vídeos com legendas e mensagens de textos ajudando na navegação são itens comuns hoje em dia para deixar a experiência mais fácil para todos.

Quem ganha com essas inovações? Pessoas como você, pessoas como eu, pessoas com dislexia, pessoas com dificuldades cognitivas ou pessoas com deficiência visual.

“Dá para perceber como usabilidade já é um pensamento de acessibilidade? Mas para corresponder a todos, é preciso entender quem são essas pessoas. Da próxima vez que você for “vender acessibilidade” pense em “vender inovação” para o seu cliente ou sua empresa. Todos vão sair satisfeitos, especialmente, o seu público ;)” Melina Alves

“Vamos construir websites acessíveis, e vamos falar sobre acessibilidade — mas vamos falar sobre isso em termos de funcionalidades e tecnologia, não a quantidade (ou valor) de um grupo de usuários sobre outro.” Anne Gibson / A List Apart

Em seu artigo sobre acessibilidade para a web, Anne Gibson traz a provocação de que não se trata de “pessoas com deficiência”. Não se trata de “pessoas com deficiência visual ou auditiva”. Não se trata de “pessoas com deficiências cognitivas”. São Pessoas. Pessoas que estão usando a web. Pessoas que estão usando o que você está construindo.” Com esta definição da chamada “minoria”, a autora manda o recado para empresas, designers e desenvolvedores: ”Precisamos parar de evocar estereótipos que temos internamente sobre o que é deficiente. Nós podemos reformular acessibilidade em termos do que oferecemos, não do que outras pessoas sentem falta. Quando tratamos todos os nossos usuários como pessoas, independentemente de suas habilidades, então estamos sendo capazes de abordar acessibilidade como apenas outro desafio técnico solúvel — valioso — para superarmos.”

Anne Gisbon esclarece que nosso conceito de deficiências também não abrange todos os grupos: “Um dado interessante trazido no artigo WebAIM discute uma situação em que é perguntado a um grande grupo de pessoas se algum deles tem deficiência visual. Pouquíssimas pessoas desse grupo respondem que sim, mesmo que um grande número delas use óculos. Apesar do fato de que eles (e eu) usemos assistência tecnológica para ver, não nos consideramos “pessoas com deficiência”.

Depois dessa provocação, da próxima vez que for desenvolver suas plataformas, pense em pessoas, em usabilidade, em inovação e em como tornar suas vidas mais fáceis.

Beatriz Lonskis

Chat com: Beatriz Lonskis

Conheça o ponto de vista da UX designer Beatriz Lonskis sobre como a tecnologia pode oferecer acessibilidade e ajudá-la a driblar a deficiência auditiva.

DUXmag: Gostaríamos de saber de você, que é designer de UX e, portanto, também trabalha no desenvolvimento de produtos e melhorias de plataformas, como a acessibilidade conversa com o conceito de usabilidade?

BEATRIZ: Compartilho da mesma afirmação da Whitney Quesenbery — uma das autoras do livro “A Web for Everyone — Designing Accessible User Experiences”. Quesenbery afirma que Acessibilidade e Usabilidade são como irmãos gêmeos separados no nascimento. Nós, os UX designers, já estamos cientes de que devemos projetar para tornar os produtos agradáveis e fáceis de usar. Se a gente não incluir acessibilidade no produto, já não é usável. Logo, são as duas funcionalidades decisivas na entrega do produto ou serviço bem-sucedido.

DUXmag: Qual a sua opinião sobre as inovações da tecnologia e se essas inovações estão mesmo deixando o mundo mais acessível?

BEATRIZ: No meu ponto de vista, o conceito de inovação é muito relativo no âmbito do design e da tecnologia. Aquele produto considerado inédito, com alguma função nunca lançada antes, mas que não atende a todos, deve ser considerado inovador? E os produtos e serviços já feitos comumente e acessíveis como o leitor da tela e legendas, por exemplo, devem ser considerados inovadores? Há certos projetos que se dizem inovadores, porém não atendem adequadamente às necessidades dos usuários em questão.

Sob o aspecto tecnológico, vejo usabilidade e acessibilidade como atributos interligados e decisivos na inovação de produtos/serviços. Já que a usabilidade é definida como uma facilidade no uso do produto ou do serviço e a acessibilidade fornece acesso ao uso do local, produto ou serviço. Sabe-se que o produto ou serviço deve ser entregue com usabilidade e acessibilidade.

DUXmag: Como você percebe as inovações tecnológicas ajudando no seu dia a dia?

BEATRIZ: Curiosamente, vejo alguns serviços que não pensaram nos certos perfis dos usuários, como os deficientes auditivos, que acabam beneficiando esse segmento também, que é o caso dos aplicativos Uber e iFood entre os exemplos. Também há chats das empresas e laboratórios médicos. Alguns dos desenvolvedores já me afirmaram que não tinham pensado nesse público ao desenvolver esses serviços.

DUXmag: Quais os aplicativos ou ferramentas que você mais utiliza para se comunicar e para facilitar a sua vida hoje?

BEATRIZ: Considerando a minha surdez e impossibilidade de falar pelo telefone, sempre procuro alguma ferramenta ou serviço que me ajude a driblar as barreiras na comunicação. Uso diversas ferramentas de mensagens instantâneas e que também permitam as conversas via videoconferência como Whatsapp, Skype, GTalk, Glide.

Também aproveito utilizar os chats disponibilizados pelas instituições para atender a algumas necessidades como o agendamento dos exames de rotina ou consulta de informações sobre determinados produtos ou serviços, por exemplo.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo lançou a Central de Interpretação de Libras. Inicialmente, oferecia dois serviços: in loco, no qual o usuário solicita um intérprete de Libras ou guia-intérprete em um serviço público onde ele precisa de atendimento. A comunicação é feita por meio da língua de sinais com o intérprete e este media a comunicação entre o usuário e o atendente do estabelecimento. Posteriormente, foi lançada mais uma função: o atendimento virtual por meio de um aplicativo instalado em um smartphone ou tablet ou em um computador conectado à internet. Qualquer pessoa pode usar a mediação de CIL para fins diversos como reportar uma emergência médica, falar com um serviço público ou particular. Segundo o site de CIL, também instalaram totens para acesso virtual à CIL nas praças de atendimento das subprefeituras. Eventualmente, utilizo o aplicativo quando não é possível me comunicar diretamente com um serviço ou alguém.

Também conto com recurso de legendas, quando disponível, nos canais abertos e pagos.

DUXmag: Você percebe uma mudança em relação à preocupação das empresas em facilitar o acesso aos seus serviços? Ou você acha que ainda tem muito a evoluir?

BEATRIZ: Felizmente, nota-se a acessibilidade cada vez mais presente nos diversos produtos e serviços. Como já citei anteriormente, hoje em dia, há muitas ferramentas e aplicativos que contribuem para a autonomia dos usuários com condições particulares. Já podemos solicitar algum serviço doméstico pelo chat de um site institucional, podemos chamar táxi ou pedir pizza por meio do aplicativo instalado no smartphone. Porém, ainda há um longo caminho a percorrer, pois ainda há áreas que necessitam de maior acessibilidade. O número dos idosos vem crescendo, o que pode demandar o grande número de serviços adaptados. Ainda há internet das coisas em que a acessibilidade ainda tem que ser estudada para ser acionada e aplicada, assim como a cibersegurança.

DUXmag: Qual sua opinião sobre a noção de acessibilidade que as pessoas tem hoje?

BEATRIZ: Vejo que o assunto de acessibilidade está sendo cada vez mais abordado, lembrando-lhes o seu valor. Inclusive há profissionais importantes abordando frequentemente o assunto, tanto nas palestras quanto nos artigos, como Reinaldo Ferraz e Talita Pagani. Porém, embora tenhamos muitas informações relacionadas à nossa disposição, ainda carecemos de prática.

DUXmag: Alguma sugestão de como as empresas, designers e desenvolvedores deveriam perceber e compreender o conceito de acessibilidade?

BEATRIZ: Nós, os UX designers, já estamos cientes de que devemos projetar para tornar os produtos mais fácil e agradáveis de usar. Se a gente não incluir acessibilidade no produto, já não é usável. Um artigo do blog de AI afirma que a acessibilidade não é adicional do pacote, já faz parte do design. Falando em design, Center for Universal Design conceitua o Design Universal como design de produtos e de ambientes para serem usados por todas as pessoas, na maior extensão possível, sem a necessidade de adaptação ou design especializado. Portanto, o projeto bem desenhado já resulta nos serviços e produtos usáveis e acessíveis. É importante que continuemos debatendo, estudando, praticando as melhores práticas até que isso vire automático.


Cláudia Vargas

Conferência com: Claudia Vargas

Para compreender a dificuldade das empresas em implementar a cultura da acessibilidade, a DUXmag foi conversar com a consultora e administradora de empresas Claudia Vargas. Já com experiência em implementar projetos de acessibilidade nas empresas, foi um atropelamento no ano passado que trouxe para Claudia a experiência pessoal de necessitar de acesso a serviços e produtos e contar muito com a tecnologia até recuperar sua mobilidade. Ouça aqui sua história e sua reflexão sobre o tema.

ENTREVISTA CLAUDIA

DUXmag: A conotação de acessibilidade nas empresas é, muitas vezes, a de que o projeto é destinado para um grupo restrito e que, portanto, precisa de um investimento extra. A partir do momento em que uma empresa como Google adota as boas práticas de acessibilidade como métricas de SEO, isso passa a ser um valor rentável para as empresas: elas serão mais acessadas se forem mais acessíveis. Pensando nos projetos que você desenvolveu, como você entende esse valor para as empresas? Existe um amadurecimento? Como implementar essa cultura de acessibilidade dentro das organizações? E como a sua experiência pessoal trouxe um novo olhar sobre o tema?

“Hoje em dia uma nova lógica de negócios se torna necessária. Nós temos que olhar por uma mente estratégica completamente diferente do que se fazia há décadas atrás. Passamos a entender o que era produto como serviço e o que era relacionamento como acesso.”

“O investimento em acessibilidade eu diria que é a forma mais pura do exercício da democracia.”

“Novas dinâmicas sociais não separam mais o que é a vida, o trabalho e os propósitos que cada um tem.”…“É aí que entram os profissionais com visões muito mais amplas e que se dedicam a entender e a desenvolver e aproximar as pessoas às organizações, aos produtos, aos fabricantes, para criar esse vínculo.”

“Hoje em dia a pessoa tem que sentir na empresa em que trabalha um objetivo maior.”

“ Talvez exista também uma outra grande mudança. Tempos atrás quando pensávamos em acessibilidade, pensávamos em deficientes físicos. Acessibilidade era colocar um balcão mais baixo para que um cadeirante pudesse ter atendimento. Esta é uma parte da acessibilidade. Acessibilidade é algo muito maior. Envolve o mundo como um todo.”

“Você vai ter canais de comunicação direto com os clientes e eles mesmos vão ajudá-lo a aprimorar o que você está ofertando. Era algo inimaginável antes. Parecia que as soluções só estavam dentro das salas de reunião. Hoje não.”

“Vemos uma maneira de nos tornar acessíveis através da experiência.”

“Passei dias no hospital e tive um processo longo de reabilitação… dos 6 meses que passei, no primeiro estive de cama e depois consegui começar a me locomover com muita dificuldade. Vivi na pele as limitações do: “temos leis de acessibilidade”, “desenvolvemos soluções para pessoas com problemas de mobilidade”, “temos atendimento prioritário”. Na prática, não é assim.”

“Isso me fez ter um comprometimento muito maior em facilitar a vida das pessoas.”… “Não me sinto satisfeita se, em cada projeto em que estou envolvida, não consigo contribuir para que ele tenha a melhor solução.”…“Como podemos ajudar a transformar a vida das pessoas?”

“Eu tinha que voltar a exercer o meu trabalho. Investi em um celular mais potente, uma internet com mais agilidade e uma série de aplicativos”… “desde compras de supermercado, marcação de consultas, até para troca de informações que passaram pela mesma situação.”…“Foi fundamental a ajuda da tecnologia. Sem ela, minha vida teria parado.”

Cláudia Vargas fala sobre acessibilidade

Web page vista com o simulador de deficiência visual NoCoffee (Smashing Magazine)

Rosenfeld Media

Segundo o Guia de Princípios de Acessibilidade em UX da Rosenfeld Media, criar uma web para todos é combinar bom design e usabilidade com acessibilidade para criar o design inclusivo.

Os princípios de acessibilidade em UX são baseados em 3 fontes principais.

1. Guia de Conteúdo e Acessibilidade da W3C, que traz o fundamentos para acessibilidade na web e as melhores práticas;

2. Os princípios do Universal Design, 7 princípios que funcionam para toda o espectro das habilidades humanas;

3. Design Thinking, uma abordagem que enfatiza fundamentar o processo nas necessidades humanas.

Usando os princípios de acessibilidade em UX, você pode criar websites e aplicações web que funcionem para todos — incluindo pessoas deficientes.

Todos esses guidelines estão explicados e ilustrados no livro A Web for Everyone. Vale a pesquisa!

 
Alastair Campbell, da Nomensa (Londres) falando sobre Acessibilidade

Segundo o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), há 4 princípios que seriam os fundamentos de todos os guidelines para acessibilidade na web:

  • Conteúdo é perceptível de múltiplas formas;
  • Conteúdo em áudio é legendado para aqueles que não conseguem perceber o áudio através apenas da audição;
  • Alternativas em texto são oferecidas para conteúdo não-textual;
  • Conteúdo é operável de múltiplas formas;
  • Todas as funcionalidades estão disponíveis através do teclado;
  • Usuários podem navegar e achar informações facilmente;
  • Conteúdo é compreensível;
  • Texto é legível e compreensível;
  • O conteúdo aparece e é operável de formas previsíveis;
  • Conteúdo é robusto em múltiplas plataformas;
  • O site interage com dispositivos móveis e tecnologias assistivas;

Grupos:

Pessoas com deficiências na web

De 15 a 20% da população mundial tem algum tipo de deficiência. Para criar uma experiência na web inclusiva para todos os usuários, é útil entender as formas que diferentes tipos de pessoas com deficiência acessam conteúdo na web e o que você precisa fazer para deixar seu website mais acessível para essas pessoas.

Deficiências auditivas (surdez ou deficiência)

Usuários com deficiência auditiva podem usar a web se forem oferecidas legendas para conteúdo multimídia (qualquer conteúdo em vídeo que também possua áudio) e transcrições para conteúdo apenas em áudio. Sem legendas ou transcrições, apenas o conteúdo visual pode ser acessado.

Deficiências motoras (Deficiências físicas)

Usuários com deficiência motoras tendem a usar apenas o mouse, apenas teclado, voz, ou outros inputs para controlar e navegar na web.

Websites desenvolvidos com flexibilidade de opções de input são mais acessíveis para esses indivíduos. A exigência de se usar apenas mouse ou apenas teclado cria barreiras para esses indivíduos.

Deficiências Visuais (Cegueira ou baixa visão)

Usuários com deficiências visuais dependem de funções para alargamento da tela, navegação apenas via teclado, e/ou o uso de tecnologia sreen reader (leitores de tela). O acesso à informação através dessas formas depende de: tamanhos de fontes de tamanho considerável, bom contraste de cor, um website bem estruturado que tenha identificação para todos os gráficos, ícones, botões e multimídia, usando web standards ao escrever os códigos para tabelas, formulários e estrutura.

Deficiências Cognitivas

Usuários com deficiências cognitivas dependem de uma estrutura de navegação consistente. Designs com apresentações demasiadamente complexas, tremulantes ou com flashs podem ser confusos para esses usuários.

Fonte: MIT

Screen Reader do Chrome

E você, como pensa? #UX_ACCESSIBILITY / #UX_ACESSIBILIDADE


Colaboradores: Melina Alves; Bruno Falabella; Flavia Figueiredo; Camila Louredo.

Entrevistadas: Beatriz Lonskis e Claudia Vargas

Um projeto da DUXcoworkers


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