Smart city e a cidadania online

O termo smart city passa pelo desenvolvimento da cidadania online exercida em ambientes digitais a partir do desenvolvimento tecnológico centrado no cidadão, gestão municipal participativa e transparência no uso de dados pessoais.

 

Neste artigo, você verá:

O conceito Smart City surge nos anos 1990, no início da Era Digital

Em Boston (EUA), a tecnologia digital está no gabinete do prefeito

As fronteiras entre o real e virtual são cada vez mais tênues

Sem dados, a inteligência das smart cities fica comprometida

IA e IoT são a inovação, não as inovadoras

Transparência no uso dos dados são tão importantes quanto a tecnologia

Os asteriscos  ( ** ) são inks para uma playlist  do YouTube com vídeos que trazem a opinião de especialistas, pensadorese pequenos documentários ou reportagens que amplificam a compreensão do tema, aprofundando o debate pela concordância ou contraposição de pontos de vista.

Boa experiência!

 

O termo Smart City surgiu nos anos 1990, no início da Era Digital que abriu caminho para a Revolução Industrial 4.0. Neste mesmo momento, os reflexos do crescimento mundial da população urbana associados ao avanço significativo da degradação do meio ambiente indicavam que a humanidade caminhava a passos largos para um futuro insustentável

Reformular o modelo de desenvolvimento social, econômico e político deixou de ser uma opção. A inovação desses sistemas se tornou fundamental para a sobrevivência no planeta. Sem estas transformações significativas, não seria preciso esperar uma chuva de meteoros, nem o soar das trombetas apocalípticas para vivermos uma catástrofe sem precedentes na história da humanidade. 

Mas para que uma mudança desse nível aconteça, é preciso envolver as pessoas, protagonistas da vida urbana que há muito tempo vinham sido relegadas a um papel coadjuvante no desenvolvimento das cidades**  graças à consolidação do automóvel como meio principal de locomoção nos centros urbanos. 

As cidades passaram a pertencer aos carros, não mais ao cidadão.

Neste complexo e problemático caldeirão fervente de concreto e aço, o advento da Era Digital trouxe um novo ingrediente capaz de mapear soluções e oportunidades a partir do envolvimento do cidadão de maneira constante, ágil, irreversível e nem sempre consciente: a Tecnologia da Informação.

 

Constante e ágil

A inteligência de uma smart city depende da informação que mapeia problemas e permite que sejam tomadas medidas reparadoras com assertividade. Isso gera agilidade, economia de dinheiro público, satisfação popular e abre as portas para a inovação.

Essa informação tem origem nos dados que a cidade fornece à administração. E se falamos em cidade, estamos falando de nós, cidadãs. Mas a participação das pessoas não deve se limitar à captação de seus dados. Todo esse sistema de informação deve ser transparente, permitindo acesso e canais de comunicação entre o público e o governo municipal. 

Desde 2016, Boston adotou uma iniciativa capaz de oferecer um conjunto de métricas que orientam as atividades diárias da administração pública no que tange à resolução de problemas e aperfeiçoamento dos serviços públicos.

 

Reformular o modelo de desenvolvimento social, econômico e político deixou de ser uma opção

 

CityScore é um sistema de informação desenvolvido para integrar os dados gerados em todo o sistema público de administração da cidade, utilizando dados como feedback dos cidadãos e de aplicativos como Waze e o Street Bump. A partir da informação gerada pelo cruzamento desses dados, são atribuídas notas às métricas que indicam a eficiência do funcionamento da cidade..

A rapidez com que a informação chega ao gabinete do prefeito e à sua equipe permite a tomada de decisões consistentes, ágeis e em com alto nível de assertividade. A eficiência deste processo pode ser verificada na renovação da frota de ambulâncias e na contratação de paramédicos para o Serviço de Emergência Médica da cidade (EMS, do inglês Emergency Medical Service). 

Pela análise conjunta das métricas “incidentes EMS” e “tempo de resposta do EMS”, que medem respectivamente o número de solicitações ao serviço e o tempo de resposta, foi constatado que o aumento dos visitantes de Boston criou uma demanda pelo serviço que a cidade não estava preparada para atender com eficiência. A partir dessa constatação, as providências foram tomadas.

Um dos pontos mais importantes desse sistema é que ele está totalmente aberto ao público, permitindo a participação popular na tomada de decisões. Há ainda um canal de comunicação que liga as pessoas ao poder público, abrindo espaço para  sugestões, críticas e questionamentos do cidadão.

Este é um dos desafios que temos pela frente: manter a transparência do sistema e estabelecer uma conduta ética da administração pública na utilização de toda essa informação. Iniciativas como o CityScore devem ser agentes da democratização irrestrita das cidades, concretizando o exercício da cidadania online. 

 

Irreversível   

Os limites entre tecnologia, pessoas e o mundo real estão se tornando imperceptíveis. A cada dia nos tornamos mais dependentes da praticidade e alcance que o universo da tecnologia digital nos oferece.

Fundação Getúlio Vargas (FGV), na edição de sua Pesquisa Anual de Sobre Uso de Tecnologia, publicada em 2019, apontou a existência de 220 milhões de celulares em funcionamento no Brasil enquanto éramos 207,6 milhões de habitantes. É mais que um aparelho por pessoa em um país que em 2019 tinha uma renda per capita de R$1438,67, segundo análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).

Para a Geração Z, que nasceu quando as maiores inovações da tecnológicas já existiam (televisão, internet e smartphone), a expressão “ser conectado” não existe por um motivo muito simples: eles não se desconectam. Pesquisa do Twitter publicada no ano passado, e um estudo realizado em 2018 pela Phone Life Balance, da Motorola, em parceria com a Doutora Nancy Etcoffespecialista em comportamento mente-cérebro e em ciência da felicidade pela Universidade de Harvard, mostra que para estes jovens que hoje têm entre 26 e 11 anos, dividir o mundo em real e digital não faz o menor sentido sentido.

Segundo o estudo da Motorola e da Dra. Etcoff, 49% destes jovens considera o smartphone seu melhor amigo e 65% deles entram em pânico quando acham que seu celular foi perdido. Uma geração que troca mensagens sem praticamente usar palavras, substituindo-as por emojis e memes. Essa é a forma preferida que estes jovens têm de interagir com outras pessoas, evitando estar fisicamente até com quem lhe é mais próximo

Também denominada “nativos digitais”, a Geração Z é o nosso futuro. Um futuro cujo presente vem sendo descrito como impaciente, indiferente, introvertido, com baixo poder de concentração, perigosamente autodidata e apressado.Em 2050 quando forem uma espécie de futuro do pretérito, a Geração Z terá entre 56 e 41 anos e viverá em cidades que vão abrigar 70% da população mundial, segundo as previsões da ONU.

Que cidades serão essas? 

 

Quando as máquinas conversam

Internet das Coisas (IoT, do inglês Internet of Things) nada mais é que a troca de dados entre objetos inanimados de qualquer natureza, desde que conectados a internet. Assim, eles podem realizar tarefas com autonomia, ou seja, sem a interferência humana. 

Segundo o centro de pesquisa Gartner, 21 bilhões de “coisas” estão conectadas ao redor do mundo, trocando informações e realizando as mais variadas tarefas: controlando a iluminação de um ambiente, medindo o batimento cardíaco de uma pessoa que faz exercícios físicos, rastreando encomendas que estão a caminho do seu destino ou ajustando a temperatura de uma casa ou apartamento para receber seu morador e convidados para um jantar.

 

 Os limites entre tecnologia, pessoas e mundo real estão se tornando imperceptíveis

 

No ambiente urbano, a IoT já é uma realidade e vem sendo considerado fundamental para a construção de cidades inteligentes. Em Boston, as lixeiras possuem sensores que informam ao sistema da prefeitura se ela precisa ser recolhida ou não, alterando o trajeto dos coletores que então se dirigem às regiões com lixeiras cheias. Também em Boston, o Street Bump é um aplicativo que se comunica com a prefeitura da cidade para relatar buracos nas vias

Apenas um em cada seis moradores de Boston relatavam à administração pública os buracos que encontrava pelo caminho. Com o uso da IoT, todos os cidadãos podem avisar a prefeitura sem fazer praticamente nada. Através da conexão e cruzamento de dados de dois sensores presentes no celular, do velocímetro e do GPS é feita uma inspeção pelo caminho percorrido, exigindo do cidadão apenas o acionamento do aplicativo quando a viagem for iniciada. 

O Brasil também tem exemplos do emprego da Iot em prol das cidades. Em Curitiba, sensores instalados em 39 semáforos da cidade prolongam o tempo do sinal fechado aos veículos para que idosos e deficientes físicos atravessem a rua no seu tempo e em segurança. Em Salvador (BA), semáforos inteligentes, o monitoramento e prevenção de desastres, a qualidade do ar e o funcionamento das redes elétricas são iniciativas que envolvem a IoT

No ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) aprovou a concessão de R$2,98 bilhões para o desenvolvimento do setor no Brasil. O projeto da cidade de Campinas (SP), que leva a IoT para a segurança pública, identificação de veículos e iluminação pública foi o primeiro aprovado pela instituição. Ele será conduzido pela Fundação CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) em parceria com a Prefeitura da cidade. 

 

Quando as máquinas pensam

Nos anos de 1996 e 1997, o campeão mundial de xadrez Gary Kasparov enfrentou Deep Blue, o supercomputador da IBM, em dois matchs de seis partidas cada**. Com o peso de representar a humanidade, Kasparov venceu o primeiro match, mas foi derrotado no ano seguinte quando os programadores inseriram mais 150 milhões de combinações de jogadas além das 100 milhões já armazenadas na máquina. Há  três pontos que podemos tirar desta história quanto à Inteligência Artificial (IA):

Não é porque é artificial que não é inteligência

Quanto mais dados lhe fornecemos, mais longe ela pode chegar

Para que competir com ela se a criamos para estar ao nosso lado?

Basicamente, Inteligência Artificial é um programa composto por algoritmos** altamente sofisticados que dão autonomia à máquina para tomar certas decisões. Essas escolhas têm como base padrões de comportamento referentes ao objetivo da máquina (sugerir um filme, um caminho alternativo, etc). 

Esses padrões compõem os algoritmos que nada mais são que replicadores de padrões comportamentais desenhados matematicamente para determinar uma linha de conduta. Em outras palavras, a IA sempre responderá a questionamentos com base no passado. Por isso ela é incapaz de criar algo novo, algo diferente do que conhecemos. 

A Inteligência Artificial é a inovação, não a agente inovadora**.

Sim, ela ganhou do Kasparov. Tudo bem, o Watson da IBM é capaz de dar diagnósticos com muito mais rapidez que um médico de carne e osso. Mas perceba que nos dois casos, há evidentes padrões a serem seguidos**. Não que o xadrez seja um jogo previsível, tampouco a medicina seja um amontoado de decorebas. Mas é possível determinar padrões entre jogadas e sintomas. O que não é possível, é uma máquina dotada de IA inventar uma nova jogada ou descobrir uma nova doença.

Ao menos, até agora**.

Machine Learning é o aprofundamento da Inteligência Artificial. Com muito mais dados à disposição da máquina e algoritmos muito mais complexos e evoluídos, a IA já começa a criar novas rotinas sem que qualquer ser humano levante um dedo para programá-la.

 

Os dados estão rolando

Os dados são a grande riqueza da história toda. Sem eles, não há informação e sem informação, bye-bye inteligência. Por isso, há cada vez mais formas de coletar dados que vão muito além do preenchimento de cadastros: fotos, impressões digitais, movimentos corporais, escolha de filmes, restaurantes, assento no cinema, quartos de hotel. Quanto mais dados que possam mapear nosso comportamento, melhor.

O problema é que se tornou comum a invasão de nossa privacidade sem qualquer pedido ou aviso. Postura que a Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais (LGPD) poderia resolver a questão por aqui. Mas teve sua entrada em vigor adiada. Um pena. Porque esta lei seria um marco positivo na forma como empresas e usuários se relacionam. 

A DUXcoworkers desenvolveu um programa especial para que as empresas encarassem a LGPD como uma oportunidade a partir do olhar conjunto da Ciência de Dados, Direito, Tecnologia de Informação e UX. O Data Privacy Sprint, realizado em três módulos, teve sua segunda etapa suspensa devido à pandemia.

Através dele, a DUXcoworkers assumiu a dianteira em um movimento de transformação das relações de consumo como motor propulsor da mudança urbana através da confiança entre empresas e pessoas, tendo como fiadora a transparência na coleta e utilização de dados pessoais. 

Em uma relação baseada na confiança, diferencial entre um produto (ou serviço) e outro não ficará restrito ao plano do consumo, mas a essa confiança entre empresa e usuário. E ainda temos a possibilidade dos dados pessoais entrarem na negociação como moeda de troca. Todos esses fatores somados e outros que surgirão vão impactar o mercado para sempre.

 

A Inteligência Artificial é a inovação, não a agente inovadora

 

A vida nas cidades já vem sendo transformada pela coleta de dados. O CityScore é um ótimo exemplo disso. Em Portugal, na cidade de Guimarães, a empresa Ubiwhere que pesquisa e desenvolve soluções para smart cities, implementou uma plataforma inteligente de gestão, para gerenciar um estacionamento de 900 vagas. Para tanto, se fez necessário instalar sensores e câmaras de vídeo para que a gestão seja eficiente e em tempo real.

Os dados captados pelos sensores de vagas, estarão disponíveis em celulares e em painéis informativos que devem ser instalados em pontos estratégicos da cidade para que a informação ajude motoristas a encontrar uma vaga para estacionar. O processo promete reduzir o trânsito lento ou parado e assim, diminuir o efeito estufa gerado pelo CO2 emitido pelos veículos. A busca por uma vaga é um dos fatores que mais provoca congestionamento em Guimarães, segundo a Ubiwhere.

Ainda este ano, o Projeto Fabulous vai testar carros autônomos em pequenos trajetos nas cidades do Porto em Portugal, Helmond na Holanda,Gjesdal na Noruegas e Lamia na Grécia. Em abril, estes testes foram realizados em Gjesdal, Helsinque na Finlândia e Tallinn na Estônia. 

 

Nem sempre consciente

governo chinês desenvolveu um aplicativo que rastreia as pessoas através dos dados de geolocalização fornecido pelas empresas de telefonia. O intuito é conter a pandemia do coronavírus. A tecnologia classifica o cidadã de acordo com a probabilidade dela estar infectada a partir dos lugares em que esteve nos últimos 14 dias. 

Se proteger a população do Covid-19 que causou, oficialmente, 4634 óbitos no país (até 30/05/2020) é um propósito louvável, a falta de transparência quanto ao uso dos dados pessoais dos chineses e funcionamento do aplicativo depõem contra a iniciativa. E gera a fundada desconfiança de que o sistema seguirá operando mesmo depois da pandemia, desrespeitando a privacidade do cidadão. 

 

“E sem ética no uso da informação e inteligência humana e responsável pelo coletivo, estamos voltando à Sociedade Controlada imaginada por Orwell, em seu livro 1984.”  Melina Alves

 

O filósofo contemporâneo Yuval Noah Harari, autor da trilogia Sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o Século XXI, coloca em xeque as boas intenções do Estado no monitoramento das pessoas, especialmente em situações de risco como a pandemia mundial da Covid-19. Em artigo publicado no Financial Times (o qual nos referimos em publicação no Linkedin), Harari nos coloca diante uma encruzilhada na qual deveremos escolher o mundo pós-covid19 que vamos viver: sob a tutela de um estado totalitário ou assumindo a responsabilidade de participar da gestão pública? Onde as nações vivem isoladas ou no mundo em que colaboram entre si para o bem do planeta e dos seres humanos?

Iniciativas semelhantes foram cogitadas em todo o mundo, despertando a indignação popular e provocando debates quanto ao respeito à privacidade do cidadão.

As cidades inteligentes dependem da transparência da administração pública e quanto ao uso de dados tanto quanto da tecnologia. Se ela  for negada, a cidadania online não se consolidará. As pessoas estarão excluídas da tomada de decisões que definem os rumos das cidades em que vivem. 

E sem as pessoas, não há inteligência nas cidades.

 

Precisamos conhecer as cidades e as pessoas 

É fácil falar, criar teorias e divagar sobre essas questões, expondo as melhores e mais bem intencionadas ideias e pensamentos. Mas precisamos sair do plano  filosófico para a ação concreta.

A DUXcoworkers já mostrou que é possível.

Com o LabMovel do UXcity, iniciamos o debate sobre as cidades inteligentes percorrendo as vias de um centro urbano complexo pelo gigantismo de sua constituição social, econômica, política, cultural e, na literalidade do termo, física.

A bordo de uma nostálgica perua Kombi, demos carona a um gestor cultural e uma especialista em meio ambiente que debateram a cidade com Melina Alves que trouxe conceitos de UX para a discussão. Enquanto atravessavam São Paulo de Leste a Oeste, aprofundaram-se em temas urbanos que surgiam pelo caminho em uma experiência imersiva que abria novas perspectivas para o debate em torno das smart cties. 

 

Vamos conversar?

Mas se não houver colaboração, os resultados estarão sempre restritos a uma esfera que não representa todo o potencial dos projetos. 

Vamos conversar sobre estas iniciativas e outras que envolvam o futuro das cidades pensado com tecnologia e inovação centrada no usuário do espaço urbano, o cidadão. 

Porque juntos, podemos mais.

Ligue ou escreva pra gente: +55 11 99370 4770 ou [email protected]

Vai ser um prazer melhorar o mundo ao seu lado.

 

 

 

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