Em um ecossistema movido pelo digital, a busca pelo desempenho imediato com base na cultura de performance muito pautada pelo marketing, demandou a digitalização de processos para dar mais agilidade na tomada de decisões.
O tempo de resposta às mudanças demandadas foi se tornando cada vez mais curto. A tecnologia permitiu que um projeto que levaria mais de um ano para ser desenvolvido, pudesse estar disponível em uma semana. Era correr ou perder o bonde.
A corrida pela eficácia acabou ditando o ritmo da eficiência. A cada dia, uma nova variante de performance dos funcionários nessa corrida pela corrida era levada aos departamentos de Recursos Humanos para serem transformadas em KPIs.
Foi inevitável que a competitividade que estava fora da empresa, na sua disputa pela preferência do público consumidor, entrasse pelos seus departamentos e transformasse colegas de trabalho em potenciais concorrentes.
A princípio, essa competição foi vista com bons olhos pelas lideranças que viam nela um incentivo à superação de metas e ao maior envolvimento dos funcionários com os objetivos estratégicos da corporação.
Até que alguns líderes começaram a pensar diferente e perceber que ter colaboradores poderia trazer mais qualidade à eficiência.
Thinking como um designer
Foi a aproximação do Design Thinking aos líderes que trouxe uma nova percepção ao comando das equipes de desenvolvimento.
Mais próximo às lideranças, o perfil essencialmente técnico desses líderes passou a ser mais engajado, valorizando as pessoas pelas skills que vão além das técnicas e estratégicas. E principalmente, as que estão atreladas à colaboração.
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Assim, o Design Thinking trouxe o UX para o workflows destas lideranças, estabelecendo uma nova percepção desses líderes frente ao valor da Cultura Colaborativa.
Essa cultura aproximou o PMO do especialista em UX com o intuito de influenciar, mobilizar, envolver, facilitar e engajar mais pessoas em torno da colaboração enquanto as skills do produto eram inseridas nesse processo, aumentando a eficiência das conversas com os times de projeto.
Foco do Sprint
Metodologia ágil são metodologias que oferecem agilidade, eficiência e flexibilidade à gestão de projetos.
Inicialmente, o Agile foi pensado para o desenvolvimento de softwares, mas suas técnicas extrapolaram o setor de tecnologia e transformaram a forma com que os gestores procedessem em praticamente todas as áreas da empresa em que haja processos de desenvolvimento de projetos.
A elaboração do Manifesto Ágil, em 2011, uma declaração de princípios do desenvolvimento ágil de software, é um marco nesse sentido. Uma ideia foi construída com base em quatro valores:
- As interações das pessoas são mais importantes que procedimentos e ferramentas
- O desempenho do software é mais relevante que a documentação
- Antes de negociar o contrato, a pessoa deve colaborar com o desenvolvimento do software
- A capacidade de resposta às contingências tem mais importância do que ter um plano pré-estabelecido.
Esse contexto em que os gestores buscavam mais agilidade de processos e os líderes consolidavam a percepção do valor da colaboração, gerou uma espécie de adaptação do UX às necessidades dessas empresas, principalmente se levarmos em conta o olhar do Marketing: o Design Sprint.
“Não há o certo e o errado pois tudo depende da cultura, da metodologia que melhor se encaixa ao contexto.”
O Design Sprint é uma redução do Design Thinking usado para resolver problemas de produtos ou serviços já existentes cujo principal valor é a velocidade do desenvolvimento de soluções e a simplificação do processo que permite a redução de custos.
Vale ressaltar que o Design Sprint não é uma evolução do Design Thinking. Eles são processos diferentes, sendo o Sprint uma redução do Thinking e cuja aplicação demanda outro momento do processo de desenvolvimento de projetos.
Enquanto no Design Thinking, o contexto é analisado e hipóteses ainda estão sendo levantadas para o desenvolvimento de possíveis soluções, no Design Sprint as decisões já foram tomadas e questões referentes à experiência de uso estão sendo resolvidas com o aval do usuário.
Ou seja, no Sprint, as pessoas entram na etapa de validação da proposta desenvolvida para produtos, serviços ou soluções urbanas enquanto do Design Thinking a colaboração do usuário começa antes mesmo da concepção desta solução.
A colaboração do usuário se dá por completo quando o Design Thinking antecede o Design Sprint em um mesmo ecossistema de desenvolvimento de projetos.
Mas a percepção estratégica do usuário nos processos é atingida quando o valor de sua experiência está na cultura dessa organização que traz não só a preocupação colaborativa, como a mentalidade inovadora.
Cultura de UX
Construir na organização um ambiente favorável à inovação a partir da cultura da empresa baseada em valores éticos, com objetivos centrados no usuário é um processo que deve envolver toda a empresa.
Não se trata de uma definição de cima para baixo. Ela deve ser construída com o engajamento de toda a organização, de todos os departamentos agindo colaborativamente para que esses valores sejam consolidados e norteiam suas decisões estratégicas.
“Na ótica do UX, a oportunidade de inovação está nos próprios colaboradores da empresa como primeiros usuários de seu produto ou serviço. É muito importante trabalhar essas soluções com os clientes da casa.”
A presença do especialista de UX junto ao RH facilita o alinhamento dos times pelo incentivo a empatia entre diferentes equipes. Assim, a presença dos laços de união intradepartamental ou presentes nas equipes de desenvolvimento passa a costurar todas as relações na empresa, engajando-a nesse processo de valorização da colaboração, inovação e atenção ao usuário.
O designer de experiência e os profissionais de RH devem trabalhar juntos pela construção desse ambiente de engajamento dos colaboradores na consolidação da cultura de inovação na empresa.
Reduzir o clima de competição, investindo em estratégia de longo prazo e no diálogo, reconfigurando a ideia de performance com base em índices mais humanos, é uma opção para que as empresas se desenvolvam em direção ao futuro.
Um futuro em que não basta pegar o bonde mas fazer com que todos os passageiros se sentem na janelinha.