Há alguns anos, resolver qualquer questão que envolvesse um banco trazia outro problema: o próprio banco. Hoje os bancos como instituição têm um desafio diferente das filas: tornar-se invisível.
Você vai encontrar neste artigo:
O que é Open Banking
O cenário do sistema financeiro atual
Bancarizados e desbancarizados
Avanços digitais no isolamento
Novos meios de pagamento
Fintechs e PME
Sistema aberto, bancos invisíveis
Oportunidade para um novo normal
Boa experiência!
Foram os bancos que nos mostraram a internet como um meio seguro para a realização de transações monetárias. Mais que transformar a relação entre clientes e bancos, o Internet Banking mudou a forma como percebemos a tecnologia digital.
Isso até a chegada dos smartphones e o desenvolvimento do Mobile Banking, que nos abriu ainda mais as possibilidades que universo on line oferecia. De repente, a partir do celular, todo mundo poderia realizar qualquer aplicação, a qualquer momento.
Na verdade todas essas mudanças tinham limites. O acesso era a qualquer hora desde que durante o expediente bancário; qualquer aplicação era permitida desde que fosse uma das oferecidas pela administração do banco; e nem todo mundo cumpria as exigências bancárias para ter uma conta, crédito e poder ser chamado de cliente.
Mas se tem algo que a tecnologia não conhece são os limites.
Open Banking
Podemos definir Open Banking como um produto financeiro que tramita outros sistemas que não são necessariamente financeiros. É o Banco como serviço aberto, mediado por tecnologias e gestão segura dos dados dos clientes.
Na prática, quer dizer que o usuário não estará restrito às plataformas dos bancos para contratar um crédito, por exemplo, tendo liberdade para contratar um produto financeiro de uma forma rápida, transparente e segura.
Tecnicamente, o Banco aberto se torna ainda mais possível graças às API (do inglês Application Programming Interface) que a grosso modo é uma interface de programação que permite o acesso de vários aplicativos baseados na internet, abrindo um canal de troca de informações entre estes canais sem que alguém precise intervir na realização desta tarefa.
A rigor, o API já é bastante utilizado no universo digital e é quase impossível de você já não ter dado de cara com ele em alguma operação digital. O exemplo mais comum é o do Google Maps que permite a vários aplicativos e plataformas utilizá-lo de maneira segura e imediata. Outra aplicação do API é quando nos logamos a um serviço através de uma rede social, ao invés de preenchermos outro formulário de associação para agilizar nosso login em um outro sistema..
Para o Banco Central (BaCen), o Open Banking é um incentivo à inovação, à concorrência no setor, ao aumento da eficiência do Sistema Financeiro Nacional e Sistema de Pagamento Brasileiro e à promoção e consolidação da cidadania financeira, que “é o exercício de direitos e deveres que permite ao cidadão gerenciar bem seus recursos financeiros”, segundo definido pela instituição.
Trocando em miúdos, o Banco Central quer dar consistência à democratização financeira através da inovação, a evolução tecnológica, para desenvolver aspectos estruturais do sistema financeiro.
Open Limits
Se a tecnologia digital já havia se estabelecido no cotidiano da maioria das pessoas e empresas, o isolamento social promovido pela pandemia acelerou a entrada daqueles que ainda tinham a ideia de que a digitalização era uma opção. A forma como as pessoas lidam com dinheiro foi uma das bruscas transformações que assistimos nos últimos meses.
Segundo dados da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária e da consultoria Deloitte, 74% das as transações financeiras realizadas por pessoas físicas em abril foi através dos canais digitais. 67% das transações analisadas foram feitas no Mobile Banking. De 2015 para 2019, o percentual de de transações bancárias realizadas via smartphone saltou de 20% para 44% no que tange ao total de transações realizadas em todos os canais.
“Avaliamos que a pandemia está mostrando que é possível acelerarmos para fornecer transações mais complexas, como contrato de crédito, com assinatura por meio digital.”
Marcelo Frontini, Bradesco – citação para a Pesquisa Febraban
Mas não é só: o uso do dinheiro em espécie é outro ponto interessante de ser analisado. Ter o dinheiro vivo em mãos é uma prática muito comum no Brasil, principalmente pelo significante percentual de desbancarizados que o país abriga.
Em 2019, 25% da população nacional não possuía conta em banco, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva publicada na Época Negócios. Eram 45 milhões de pessoas que, a despeito da desbancarização, movimentam anualmente R$817 bilhões. Neste ano, cerca de 20 milhões dos 55 milhões de pessoas que receberam o auxílio do governo devido à pandemia não possuíam conta bancária.
O auxílio também foi considerado pelo Banco Central (Bacen) o responsável pelo aumento do papel moeda em circulação no país, em um movimento que nada contra a corrente da digitalização dos meios de pagamento. De fevereiro a junho, o aumento do dinheiro vivo foi de 29%, que corresponde ao maior valor da série histórica iniciada em 2001.
A informação do Bacen é ratificada por um estudo realizado por Charles Goodhart, ex-diretor do Banco da Inglaterra, e Jonathan Ashworth, que apontam um considerável crescimento da circulação de cédulas nos EUA, Canadá, Itália, Espanha, Alemanha, França, Austrália e Rússia e Brasil.
“Toda empresa é uma empresa de tecnologia.”
Peter Sondergaard
Outro ponto a ser considerado para o uso do dinheiro vivo pelos brasileiros é o fato de a maioria dos estabelecimentos aceitá-lo como forma de pagamento (99% dos entrevistados pelo Bacen). Já em 2018, um estudo sobre a relação do brasileiro com o dinheiro, também realizado pelo Bacen, mostrou que guardar dinheiro em casa, assim como deixá lo na poupança, são preferências nacionais. As justificativas variam: 24% têm percepção de não possuir uma quantia suficiente para investimentos diferentes, 23% ressaltam a facilidade de retirada em caso de necessidade e 19% não acham que têm conhecimento suficiente para buscar outras aplicações.
Mas a pandemia reduziu drasticamente, o pagamento em dinheiro vivo, como mostra a pesquisa realizada pela Mastercard, publicada pela Exame. Segundo ela, 77% dos brasileiros reduziram ou deixaram de usar o dinheiro em espécie e 75% deles pretendem seguir pagando “sem dinheiro vivo”. A pesquisa ainda mostra um aumento de 66% na utilização da tecnologia de aproximação, justificado pela pandemia por 69% das pessoas.
A primeira vista, o cenário parece ser confuso. Como pode aumentar o números de cédulas em circulação de também houve um significativo crescimento na utilização dos meios de pagamento digital?
Índice de confiabilidade
Talvez toda a aparente disparidade entre esses dados e pesquisas seja um reflexo da confiança das pessoas no sistema financeiro. Um bom indicador quanto a isso pode ser vislumbrado na relação das fintechs com as Pequenas e Médias Empresas (PME).
Em pesquisa realizada pelo Capterra publicada em 12 de agosto deste ano, 71% das PME que trabalham com fintechs têm alto nível de confiança nelas (alto de 55% e altíssimo de 16%). Quando o cenário traz as instituições bancárias, estes índices caem para 32% (28% e 4% respectivamente).
Não é por acaso que de 2018 para 2019, houve um aumento de 34% no surgimento de fintechs no Brasil. O que não é novidade pois esse tipo de empreitada tem sido comum no país. Basta dizer que das nove startups brasileiras tidas como unicórnios, presentes no “The Crunchbase Unicorn Leaderboard” do TechCrunch, duas são fintechs – com uma delas tendo um valuation de US$ 10 bilhões e figurando entre as 30 mais valiosas do mundo.
Com o Open Banking, as fintechs terão uma porta aberta à oportunidade de aumentar sua carteira de clientes através de produtos e serviços inovadores e customizados. Historicamente mais ágeis que os bancos e umbilicalmente ligadas à inovação, as fintechs que mais cresceram no país foram as de pagamento (de 23% para 26%) e as de crédito (de 15% para 17%), segundo o Mapa de Fintechs do Brasil, publicado em setembro de 2019 pela Finnovation.
“A experiência do usuário é primordial para o sucesso de uma plataforma de pagamentos instantâneos.”
Ana Paula Lapa, Vice-presidente de Produtos & Inovação na Mastercard Brasil e Cone Sul
Esse aumento de percentual dirigido a dois nichos dominados por grandes instituições bancárias não precisa ser tomado como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade. Basta pensar que há um imenso potencial inexplorado com os desbancarizados e uma infinidade de opções de se abrir parcerias com outras instituições financeiras.
O importante é ter em mente que é preciso repensar o sistema sob a ótica as pessoas, oferecendo~lhes a melhor experiência possível. É no usuário que deve estar centrado a inovação de cada projeto evolução tecnológica desenvolvida.
Este usuário não quer nada menos que encontrar no sistema financeiro digital a facilidade que encontra quando circula pelas redes sociais. Quando manda uma mensagem pelo WhatsApp ou comenta as férias de uma amiga, esse usuário tem a certeza de que sua manifestação foi enviada com rapidez, diretamente ao alvo como se ela mesma, em carne e osso, estivesse entregando a outra pessoa. É essa naturalidade que o sistema deve oferecer.
Em outras palavras, as pessoas querem eficiência, segurança e transparência. E quanto menos perceberem que há um intermediário entre elas e seu dinheiro, melhor.
A busca pela invisibilidade
O PIX é um sistema de pagamentos e transferência financeira digital desenvolvido pelo Banco Central para funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana. A ideia do PIX é a transferência de valores a qualquer momento do dia, em qualquer dia.
O PIX não terá custo algum e vai sacudir o mercado dos meios de pagamento. Basta um QR Code ou uma chave de segurança para a transação se efetivar. Sem dados sem CPF, sem número da conta corrente ou agência. Sem boleto, sem custo. Nem vai parecer que há um intermediário entre você e a pessoa, empresa ou instituição que está transferindo dinheiro. É a invisibilidade do sistema.
Em agosto, o Banco Central divulgou as primeiras regras do PIX que deve movimentar, segundo a instituição, R$13 trilhões por ano. A ideia por trás deste sistema de pagamento é não permitir o que ocorreu na China, por exemplo, que teve o canal de pagamento instantâneo dominado por por poucas empresas. O sistema PIX deve entrar em funcionamento no Brasil em novembro de 2020, concorrendo com ferramentas de transferência do WhatsApp, PicPay e Mercado Livre, a princípio. Em outubro, o Bacen abre o registo das chaves de endereçamento para os consumidores se cadastrarem.
Além da rapidez e da redução de custos, um outro elemento é fundamental para que esta invisibilidade seja possível: a segurança.
Nesse sentido, mais que a segurança contra fraudes, das quais os sistema bancário já se previne com criptografia, autenticação mútua, assinatura digital e outras tecnologias, há a necessidade dos dados dos clientes estarem seguros e a garantia de que seu uso será transparente. É quando a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) entra em cena.
Data Privacy Sprint
Há pouco mais de uma semana, o Projeto de Lei de Conversão foi enviado para a sanção presidencial e inevitavelmente colocará em vigor a LGPD – embora as penalidades pecuniárias pelo seu desrespeito só passem a valer no ano que vem. Isso quer dizer que a utilização dos dados das pessoas, até hoje realizados à revelia da vontade de seus proprietários, vai mudar radicalmente. Um dos efeitos dessa mudança é a viabilidade do sistema financeiro aberto, o Open Banking.
O cumprimento da nova legislação pelas empresas abre possibilidades que mal podemos contabilizar. Isso porque cada empresa, a partir do seu negócio e do seu olhar sobre o usuário, poderá desenvolver produtos e serviços novos que ressaltem o valor da confiança na relação comercial, abrindo espaço para negócios que privilegiam os dois lados da transação. Assim, todos ganharão e o desenvolvimento será inevitável.
“Os Internet Bankings já fizeram uma transformação digital há anos atrás e são responsáveis pela maturidade da digitalização dos usuários. Agora, com Open Banking, os bancos se tornam responsáveis em criar uma cultura de segurança em seus clientes, e segurança tem a ver não só com tecnologia, mas com comunicação e com clareza e transparência dos seus acordos e uso das informações, fortalecidos pela cultura que irá ser promovida com LGPD, na minha opinião.”
Melina Alves, DUXcoworkers
Por isso a DUXcoworkers desenvolveu o Data Privacy Sprint, um programa de desenvolvimento de novos negócios a partir de oportunidades que a vigência da LGPD trará ao mercado. Para tanto, o Data Privacy traz o olhar do usuário diante a nova realidade legal a partir de quatro prismas: o do direito digital, o da tecnologia, o da ciência de dados e o do design de experiência.
Porque todas as transformações que estamos vivendo, aceleradas ou não pelo isolamento social, são uma oportunidade para estabelecermos novos negócios, novas relações comerciais e fundarmos, de fato, um novo normal.
Uma normalidade que agregue e que contemple todos os lados envolvidos numa negociação.
Como deve ser o normal.