A confiança é um dos bens mais valiosos do ser humano. Ela é uma espécie de fiadora das nossas conexões, provocando uma maior aproximação entre as pessoas e garantindo a estabilidade e uma dinâmica saudável nos relacionamentos. A confiança ainda potencializa a transparência que oferece às pessoas todas as informações de que ela precisa para decidir se permanece em uma relação ou se é melhor partir para outra. Quando a confiança é traída, a tendência é o afastamento provocado pela decepção e mágoa, esvaziando a empatia outrora sentida, dificultando qualquer possibilidade de volta. E se assim é em nossa vida pessoal, por que não seria quando tratamos de hábitos de consumo, trabalho ou uso da tecnologia?
A individualização dos serviços acessíveis por aplicativos das mais diversas naturezas, deixa em segundo plano, quando muito, o coletivo. Ainda que possamos dividir um Uber com outras pessoas ou encontrar companhia no Tinder, o isolamento parece ser uma tendência que nos impede de aprender e evoluir com experiências alheias, entender melhor o ambiente que nos cerca ou até nos tornarmos clientes de prestadores que superaram nossas expectativas. Em última instância, estamos à mercê da tecnologia que vem estabelecendo as regras do trabalho e de nossas relações com o próximo sem levar em conta um aspecto fundamental: as pessoas.
Como foi sua viagem?
Ahmed Khaishgi, CEO e Co-founder da Square Trade, abordou o tema de uma forma direta e sem meias palavras: confiar é falar a verdade. A simplicidade da afirmação deu o tom do debate, levando o público a uma ampla e contundente reflexão sobre as relações humanas dentro do ambiente tecnológico e a importância da transparência nesse cenário.
A confiança norteia também a habilidade de empreender.
Além das características necessárias para ser um empreendedor genuíno (usar recursos com sabedoria, criatividade, execução inteligente e pensamento a longo prazo, por exemplo), o CEO deve ser íntegro, honesto, inspira e desafia as pessoas para buscarem e darem o melhor de si.
O empreendedor deve conhecer o seu consumidor e está sempre surpreendendo para fazer algo novo ainda melhor.
Ainda, na linha do empreendedorismo, surge o propósito como o fator determinante de sucesso. Na palestra de Adeo Ressi, CEO do Founders Institute que inspirou e sustentou a escalada de diversas startups da nova era, nos fez parar para pensar porque uma pessoa investe o seu tempo em um projeto e não em outro, sendo o tempo algo tão valioso., levando em consideração que entender o propósito de nossas ações é acordar para escolhas importantes.
E a internet, como elemento facilitador de conexão, é um catalizador das mudanças baseadas em oportunidades reais quando inspiradas pelo propósito. Como traduzir o propósito em ações? Criando ambientes saudáveis para as pessoas, sendo essa uma das metas para 2030 da agenda mundial das Nações Unidas.
E a confiança nas pessoas foi o que inspirou Neil Pasricha a começar a contou contar uma história sobre as que avaliações que motivaram as pessoas a apostar no uso do pegou um Uber. Um dia ele pegou um Uber cujo piloto tinha a avaliação de 4,9, num máximo de 5,0. Super bem cotado, o motorista parecia ser o profissional indicado para a função. Mas quais são os critérios desse ranqueamento? O que de fato foi avaliado? Por que os passageiros que entraram naquele carro antes de Neil lhe deram altas notas? Seria a presteza no volante, a rapidez com que chega ao destino, sua simpatia ou a água e a balinha que oferece aos seus clientes? Essa avaliação confundiu ainda mais Neil quando, ao descer do carro, foi abordado pelo próprio condutor que lhe solicitou uma avaliação positiva. E agora? Sua qualificação seria em função de sua competência ou do seu pedido? Os clientes davam suas notas pelo serviço bem prestado ou para ajudar o motorista? A falta de transparência nos critérios de avaliação limita nossas expectativas, espremendo-a dentro de um algoritmo que simplesmente é incapaz de comportar toda a gama de sentimentos humanos.
Já em outra palestra Ahmed contou que pegou um Uber cujo piloto tinha a avaliação de 4,9, num máximo de 5,0. Super bem cotado, o motorista parecia ser o profissional indicado para a função. Mas quais são os critérios desse ranqueamento? O que de fato foi avaliado? Por que os passageiros que entraram naquele carro antes de Neil lhe deram altas notas? Seria a presteza no volante, a rapidez com que chega ao destino, sua simpatia ou a água e a balinha que oferece aos seus clientes? Essa avaliação confundiu ainda mais Neil quando, ao descer do carro, foi abordado pelo próprio condutor que lhe solicitou uma avaliação positiva. E agora? Sua qualificação seria em função de sua competência ou do seu pedido? Os clientes davam suas notas pelo serviço bem prestado ou para ajudar o motorista? A falta de transparência nos critérios de avaliação limita nossas expectativas, espremendo-a dentro de um algoritmo que simplesmente é incapaz de comportar toda a gama de sentimentos humanos.
Esse foi tema da palestra de Alex Rosenblat, quando apresentou seu estudo, Uberland, que investiga a reestruturação das regras trabalhistas pelos algoritmos. Alex nos revela a complicada política das tecnologias que, pela falta de transparência, manipulam trabalhadores e consumidores.
“Quando trabalha para um algoritmo, você é um empregado, um empreendedor ou um usuário de tecnologia?”
Provocados pela discussão, não pudemos nos furtar a pensar no quanto somos manipulados por dezenas de ranqueamentos e percentuais que nos são apresentados como um diferencial de um produto ou serviço. Mas a rigor, não sabemos o que essas notas e essa aceitação de fato significam.
Percebemos que o esvaziamento do significado de nossas opiniões também estão presentes nas mensagens de texto que nos acostumamos a trocar via chats digitais.
A limitação de caracteres, por muitas vezes presente nos aplicativos, aliado à necessidade da resposta urgente, leva as pessoas a pensar cada vez menos e aceitar passivamente o que lhes é dito. A superficialidade das relações é incentivada a partir do momento em que qualquer tema, dos mais banais aos de relevante importância, são tratados da mesma forma em espaços limitados como o Twitter ou urgente como o Whatsapp. E pouco a pouco, essa interação perde a credibilidade pois se eu respondo sem pensar, apenas por responder, por que meu interlocutor não faria o mesmo?
Por isso devemos pensar com mais cuidado na importância das mensagens de texto não serem limitadas pelo aplicativo, e sim pela necessidade das pessoas em se comunicar. Somos nós quem devemos, no nosso tempo, decidir se o assunto que tratamos merece um textão ou uma mensagem rápida e rasteira, e não um algoritmo. A partir do momento que abrimos mão de tais decisões, estaremos nos diminuindo como pessoas e aumentando a distância que nos separa.
Juntos somos mais inteligentes.
O sonho de termos o IoT (Internet of Things) à nossa disposição é uma realidade sentida e computada pelos desenvolvedores de tecnologia. Poder programar toda uma casa remotamente para deixá-la do jeito que quisermos quando ainda estamos no caminho, é um sonho que já não se limita mais aos filmes de ficção científica ou aos desenhos animados como o clássico Os Jetsons.
Mas se quisermos que a Inteligência Artificial entre na brincadeira, é preciso que nós, usuários, também façamos parte do processo. Como? Interagindo, trocando ideias, aprofundando nossas relações e entendendo o ambiente que vivemos e o que é importante para cada um de nós. É a partir dessas relações que moldamos protótipos e temos ideias para ampliar horizontes e evoluir projetos.
Assim, mais que a geladeira que nos permite regular sua potência remotamente, poderemos ter uma que nos avisa que a cerveja que está no freezer não será suficiente para a festinha que vamos dar em casa.
Obrigado e volte sempre. Mas desde que o aplicativo permita.
Voltando a bordo do Uber, Neil Pasricha nos propôs outra reflexão sobre o fato de não podermos escolher o motorista que nos levará, nem se assim desejarmos. Essa escolha cabe única e exclusivamente ao aplicativo que se pautará apenas no geolocalizador. Quem estiver mais perto do pedido no momento de sua solicitação é o escolhido. Mesmo que se estabeleça a empatia e confiança entre cliente e prestador, essa parceria só se repetirá por obra de um acaso algorítmico. A fidelidade aos serviços deste motorista está comprometida em mais um exemplo do quanto a tecnologia pode nos afastar, mesmo quando quisermos a aproximação. Com a interação humana fragilizada, ficamos sujeitos a encontros fortuitos que comprometem o aprofundamento das relações e da própria experiência de consumo. E aquela pessoa que você deu nota máxima e até uma gorjeta pelos excelentes serviços prestados, pode nunca mais voltar a trabalhar para você, tornando-se um anônimo no universo dos motoristas do Uber.
Quem fala?
O ambiente digital é um espaço que facilita o anonimato, garantido a princípio a intimidade e a vida privada de seus usuários. Porém, esse direito fundamental de qualquer pessoa é comumente usado para esconder haters e disseminar informações falsas, assim como é violado por empresas que se apoderam de nossos dados como se fosse algo natural e corriqueiro.
Ao mesmo tempo que a Internet é uma fonte inesgotável de informação, é um ambiente gerador de boatos. As Fake News, tão em voga hoje em dia, espalham-se por computadores, tablets e celulares como um rastilho de pólvora, queimando reputações sem que a fonte da informação compartilhada seja identificada. Hoje em dia, o poder público conta com profissionais e tecnologias capazes de identificar as origens das notícias mentirosas, mas até que algo seja efetivamente feito o estrago estará feito.
Porém, se o anonimato neste caso é nocivo às nossas relações, em se tratando de nossa privacidade é um direito. Quando preenchemos um formulário para ter acesso a qualquer coisa na internet, seja uma compra, uma notícia de uma revista eletrônica ou a matrícula para algum curso à distância, não estamos liberando nossos dados para circularem na rede. Mas as regras de uso dessas informações não são transparentes. Geralmente vêm em meio um longo, complicado e tedioso contrato de adesão ou termos de uso que na maioria das vezes não lemos. A falta de clareza das guides lines foi pauta de várias discussões.
E seria, então, o fim da privacidade?
Hoje, cada um de nós faz parte de um banco de dados de empresas como Amazon, Facebook, Google, IBM, Alibaba, Baidu. Apple, Tencent. Resumidos a um punhado de números, nossos hábitos de consumo, opiniões políticas, preferências gastronômicas e outras informações que definem nosso estilo de vida, estão à disposição de grandes marcas corporações como se fossem uma propriedade corporativa. E a falta de transparência já citada anteriormente, também nos impede de saber qual o intuito dessas empresas: o que exatamente elas pretendem fazer com nossa privacidade?
Nuvens escuras.
A falta de transparência com relação ao armazenamento e uso de nossos dados pessoais gera um inevitável desconforto quanto ao futuro que esperamos. O já mencionado sonho de podermos estar conectados aos aparelhos, máquinas e eletrodomésticos do dia-a-dia, podendo controlá-los remotamente através de nossos smartphones (IoT: Internet of Things), ganha contornos de um pesadelo se essa postura invasiva de boa parte das empresas não for controlada. A desconfiança provocada pela falta de transparência assusta mais que uma geladeira descontrolada tendo um surto térmico no meio da cozinha. Afinal qual o real preço que estamos pagando pelo conforto de termos cidade, trabalho, comércio, casa, carro totalmente conectados? Quais as consequências? Projeções futuras nem sempre animadoras…
Nesse cenário, a ética empresarial tem fundamental importância para oferecer confiança ao consumidor, garantindo um ambiente digital transparente e seguro. Os limites que devem ser respeitados por desenvolvedores e designers da informação devem estar claros, assim como as regras a que nós, usuários, estamos sujeitos. Assim, além das corporações reforçarem seus valores e estabelecerem uma relação de confiança com o público, estarão colaborando para o desenvolvimento de novas tecnologias.
A regulamentação do uso de dados tem tudo para ser um avanço sob esse ponto de vista. Com as regras bem definidas, estaremos seguros quanto aos nossos direitos e obrigações, sabendo exatamente quem denunciar, porque e para quem, caso sejamos vítimas de abusos e “mal entendidos” empresariais no ambiente digital.
Por isso é sempre importante desafiar, questionar e aprender,
Luz no fim do túnel.
Nesse cenário perguntamos qual seria o papel do governo: regulamentador ou apoiador?
A Suécia saiu na ponta e disse que o papel do governo é de apoiador, pois já existem regras para serem aplicadas, embora sua revisão seja necessária. Na palestra HowCanGovernment Help Creatives, que teve a participação ilustre da Embaixadora da Suécia nos Estados Unidos, acompanhada por Vanessa Reed, representante inglesa e CEO da Music Foundation e Giuseppe Abbamonte, Diretor das Políticas de Cinema da Comissão Européia, muito se falou sobre o uso da tecnologia para a promoção e preservação da cultura.
“Talentosos estão por todos os lados, mas investimentos não” ressaltou a embaixadora Karin Olofsdotter.
O incentivo à cultura por programas de governo, além de ter fundamento econômico, gerando emprego e renda, permite a preservação de valores e da história de um povo. E o acesso à arte, segundo esse grupo, é um imperativo para incentivar o diálogo e a diversidade.
Nesse painel ficou claro que a diversidade, ampliada pela tecnologia, pode sim conviver em paz com a tradição, mas que grande parte dos fundos de investimento são acessíveis por pessoas e empresas que tem projetos pautados nas intenções governamentais de proteção à cultura, à igualdade de gênero e desenvolvimento da educação.E a Inglaterra reforçou que a transparência dos valores e projetos investidos é um imperativo daquele país, para promover a confiança das pessoas nas ações do governo.
A cultura deve cruzar as fronteiras geográficas, incentivando a circulação de pessoas, o turismo, o conhecimento, trazendo curiosidade e criatividade.
Enquanto isso, na Eslováquia…
Dentre as diversas casas que representaram seus países, a turma da Eslováquia trouxe bom exemplo de como podemos nos livrar deste cenário futuro opaco e confuso, onde não nos reconhecemos como pessoas conectadas e próximas. O ambiente hiperconectado em que vive o eslovaco há algum tempo, provocaram experiências relevantes de sua população. Hoje, o país se desenvolve com foco no estreitamento das relações entre seus habitantes, potencializadas justamente por quem costuma nos separar: a tecnologia.
A Casa da Eslováquia, que permaneceu cheia durante todo o festival, apresentou uma pesquisa relevante e animadora quanto à importância dessa aproximação no universo digital e colaboração. Aproveitando-se da preocupação com o meio ambiente e sustentabilidade, uma característica própria do povo eslovaco, o desenvolvimento de alternativas para comunicação e entretenimento conjunto se tornou um caminho natural à integração. A geração de conteúdo vem sendo feita por pessoas, e não por empresas, humanizando o ambiente online e democratizando a rede, gerando oportunidades a empreendedorismo e uma significativa integração entre as pessoas que veem em sua rede mais que informações impessoais, sintéticas, homogêneas e anônimas (quem naquela empresa escreveu a mensagem que recebi?). Essa transparência na comunicação e na abordagem dos assuntos gera confiança, incentiva a conexão e aumenta a proximidade entre as pessoas, provocando reflexos na própria evolução intelectual do eslovaco como um todo, ampliando seu poder de decisão e liderança.
Mentiras sinceras não interessam.
Apesar do exemplo da Eslováquia, muitas empresas seguem apostando na falta de transparência, como se criar um ambiente confuso apresentasse uma vantagem sustentável. Muitas dessas empresas ainda não agem na realidade como prometem em seus discursos. A curto prazo, temos o incremento nas vendas gerados por uma ´promessa comprada mas não cumprida. A decepção com a mentira provoca o afastamento do público que, com a confiança traída, dificilmente voltarão a consumir a marca em questão.
Esse ambiente empresarial, desprovido de transparência e alimentado por valores equivocados, é o dia a dia da maioria das mulheres. Como realçamos no artigo O DIA DA MULHER NO SXSW 2019, a competência feminina ainda é desprezada em grande parte das corporações como fator decisivo de liderança. Talvez por isso, os chamados Gen Zers (Geração Zero), vem assumindo lideranças empresariais de desenvolvimento de novos produtos, serviços e tecnologias, sem esperar que os executivos seniors apontem caminhos. As necessidades que o público possui e expressa nas entrelinhas de seu comportamento parece estar além da compreensão desses executivos. Com a Gen Zers, os jovens que queriam mudar o mundo parecem estar de volta, ávidos por mudanças sociais que seus pais parecem já não fazerem tanta questão.
As mulheres são um reflexo desse comportamento masculino e o SXSW está sintonizado a essa realidade. Prova disso é que dedicou três dias à mulher, assumindo-se como apoiador do empreendedorismo e liderança feminina. Melina Alves nos traz de sua participação no SXSW 2019, a reflexão de que, diante o quadro de tendências apresentado em Austin, são as mulheres que caminham a largos passos rumo ao desenvolvimento de um ambiente de trabalho que favoreça a competência, o trabalho colaborativo, a especialização e a transparência. São esses valores que se tornam fundamentais para a sobrevivência da liderança no trabalho, fazendo com que ela seja definidora de novos rumos e atingimento de metas.
A DUXcoworkers, como também tratamos no artigo acima citado, estimula esse ambiente em prol da excelência e não de políticas ativistas ou preenchimento de cotas que causam, num primeiro momento, a empatia do público. Para a DUX, privilegiar a competência e promover um ambiente de trabalho saudável e propício ao desenvolvimento das pessoas é uma prática que vem desde sua fundação. É natural para a empresa promover a colaboração, a integração entre as pessoas e ter a liderança exercida pela competência. Sem letras miúdas, mensagens cifradas nas entrelinhas ou interpretações equivocadas. Tudo muito transparente, do começo ao fim de qualquer processo.
Afinal, apenas a verdade nos interessa.
A DUXcoworkers quer trazer você para o centro das discussões dos temas que mais nos chamaram a atenção no SXSW 2019. Se você se interessa por Economia e Tecnologia, Cidades Conectadas e Trabalho e Pessoas, mande um e-mail pra gente e participe: [email protected].